quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O desafio de inventar moda

De todas as áreas do conhecimento, a moda, sem dúvida tem chamado a atenção nos últimos anos. É uma fonte inesgotável de novidades que estimulam nosso desejo, e deixou de ser apenas sinônimo de glamour e frivolidade para se tornar um poderoso fenômeno social e de grande importância econômica. A moda é hoje, instrumento de estudo histórico e sociológico, além de ditar comportamentos e tendências.



Diante desta realidade, a área tem apresentado um constante crescimento e profissionalização, assim como um desempenho de expressivos resultados tanto no Brasil como no exterior. Em virtude desse fenômeno, observamos o surgimento de profissionais com perfis bastante distintos dos conhecidos até pouco tempo.


Mas, afinal, quem são os profissionais que circulam os bastidores e em alguns casos, sob os holofotes da moda?

O trinômio: tecnologia, criação e tendência é o principal eixo de sustentação da área, e o ingresso na profissão pressupõe muito estudo para o desenvolvimento do domínio técnico e da capacidade criativa.


Essas são características fundamentais para o sucesso em um mercado que, apesar de altamente competitivo, é democrático e oferece diversas oportunidades nas mais diferentes atividades.


Como fruto de sua seriedade e profissionalismo, muitos profissionais brasileiros têm seu talento reconhecido mundialmente, o que representa uma importante colaboração para consolidarmos nossa posição no mercado globalizado.


Então, mergulhamos fundo neste universo tão complexo e cheio de vertentes que é a moda, com a intenção de motivar a descoberta e a identificação de todo o potencial de um mercado que tem gerado as mais diversas oportunidades de trabalho no mundo inteiro.


As atividades de pesquisa de moda analisam a informação de áreas distintas como economia, política, sociologia, ciência e tecnologia, até chegar à formulação de prognósticos na forma de tendências.


Muitas variantes de uma mesma história se cruzam e entrecruzam, tornando-se parte do mesmo enredo, abordando uma etnografia da área e tendo por fio condutor a integração dos vetores numa grande engrenagem.


Na verdade, só depois de passar por um banho mínimo de informações, será possível chegar ao mercado e aplicar noções consistentes na escolha de postos de trabalho. A profissionalização no setor de moda, vale dizer, é recente e cresce na direta proporção do surgimento de vários cursos de especialização na área, o que antes, os profissionais usavam muito de seu instinto e da experiência adquirida no dia-a-dia de trabalho.


Ao sair da escola, já com um conhecimento básico de como funciona esse mercado, os estilistas deverão passar ainda por um processo de aprendizado adicional e entender que na moda tudo funciona com um pé plantado no presente e o outro no futuro.


Enquanto as pessoas estão preocupadas com o que vestir na primavera-verão, os estilistas estão de olho nas tendências outono – inverno e vice-versa. O trabalho do estilista não pára. Mal conclui uma coleção, já é hora de começar a preparar a próxima. Muitas vezes, nem mesmo uma coleção foi inteiramente finalizada e o estilista já está pensando alguns detalhes da que vem a seguir.


A melhor forma de obter informações sobre a moda é por meio das feiras internacionais, sobretudo as que acontecem na Europa e em Nova York.


Os estilistas devem viajar a Paris, Milão, Londres e Nova York, principais vitrines de tendências, para buscar inspiração e avaliar o que pode ou não ser adaptado. A moda é um negócio que gira milhões de dólares e por esta razão a maior parte das griffes fazem as suas coleções com base em uma ou mais tendências propostas pelos grandes criadores.


Com a globalização, as coleções em todo mundo apresentam-se com temas e inspirações muito semelhantes, o que acaba reduzindo a margem de erro do estilista. Os profissionais de moda costumam viajar para fora do país pelo menos duas vezes por ano: entre maio e abril, para conhecer a moda verão, e nos meses de setembro e outubro, para colher informações sobre o inverno do ano seguinte.


Muitas vezes os estilistas compram roupas no exterior e trazem peças para tirar idéias. Outros anotam detalhes interessantes de peças que mais tarde, vão aparecer em suas coleções. Muitos donos de confecção, estilistas e compradores visitam lojas e shoppings estrangeiros com cadernos e canetas. Há também quem prefira fotografar os modelos mais interessantes e outros que costumam andar com um gravador na mão, fazendo a descrição das roupas que estão vendo. As novas tendências podem tanto estar expostas numa vitrine quanto podem ser percebidas nas ruas.


Há, porém, uma alternativa mais barata do que as viagens. São as revistas estrangeiras, como Marie Claire, Elle, Vogue e Bazaar. Existem dois tipos de revistas: as internacionais de tendência e as que são periódicas e vendidas nas bancas. As de tendência como a italiana Collezionni, são consideradas bíblias para os pesquisadores. Geralmente são lançadas duas vezes por ano, acompanhando as estações primavera-verão e outono-inverno e publicadas com muita antecedência, pois servem de base para pesquisas. Trazendo fotos dos maiores desfiles realizados nas grandes capitais da moda, essas revistas são o meio de comunicação do que realmente foi mostrado nas passarelas, isto é, a produção dos estilistas.


Existem ainda os cadernos de tendências (bureaux de style) que estabelecem as diretrizes para a próxima estação, definindo os quatro pilares que determinarão a moda em todo o mundo: silhueta, tecido, cores e textura. As tendências de moda são apontadas pelos bureaux de style, porém são as revistas de tendência que as confirmam através das fotos dos desfiles de lançamentos das coleções.


As revistas periódicas vendidas nas bancas têm características diferentes. Em primeiro lugar, são lançadas com antecedência mínima, servindo para informar ao público sobre o que vai acontecer na moda dentro de um mês (muitas delas são mensais) e atualizar os profissionais da área. Em segundo lugar seu design de capa e seu conteúdo são finamente regulados com as tendências da estação presente. Assim, por meio delas o leitor fica sabendo sobre o que está à venda nas lojas (ou o que será vendido em breve), as cores que estão em voga, os lugares badalados, entre outras informações do dia-a-dia.


Tanto as revistas de tendência quanto as periódicas abrangem diferentes segmentos do mercado. As de tendência, por exemplo, dividem-se entre os setores masculino, feminino, infantil, de acessório e, agora até de marketing. A divisão das revistas periódicas dá-se de uma forma um pouco diferente. Por não serem veículos de pesquisa, mas direcionados ao público em geral, atendem a segmentos como: mulheres que gostam de moda, mas que também querem ler matérias em geral (Marie Claire), mulheres que “põem a mão na massa” (Manequim). Enfim, cada uma à sua maneira fornece informações atuais e pertinentes aos interessados em moda.


Por meio dessas publicações e da internet, os estilistas também ficam sintonizados com as cores, os tecidos e as padronagens que serão usados na próxima estação.


Muitas empresas optam por pesquisar em publicações para não arcar com custos muito elevados. Contudo, nada substitui a pesquisa in loco. As ruas, por exemplo, são locais ricos de informações que raramente são transmitidas por meio das revisas. Delas surgem idéias e fica mais simples criar em vez de copiar, uma vez que passa a ser possível absorver os conceitos de produção. Já se fazem pesquisas do Brasil com relativa garantia de qualidade de dados, mas são as viagens que tendem a enriquecer verdadeiramente as criações.


Concluída a pesquisa, o passo seguinte é colocar as idéias no papel. Na fase de criação, é importante verificar se há tecidos que casem com as idéias. As confecções costumam receber visitas regulares de representantes de fábricas de tecelagem, que apresentam cartelas com todos os padrões disponíveis para a próxima estação. Algumas vezes, acontece de o estilista não encontrar um determinado tecido e ter de optar pela importação.


Depois das padronagens encomendadas e das roupas traçadas, é a vez do modelista entrar em cena. Com seu trabalho ele amplia e coloca na proporção correta o desenho do estilista. Quando o molde está pronto, ele é entregue a uma pilotista, como é chamada a costureira encarregada de fazer as primeiras peças de uma coleção. Depois de montada, a roupa passa pelo processo de prova. Pode acontecer de a peça ser refeita até três vezes para ficar exatamente como foi idealizada.


Com o aval da estilista e da modelista, é a vez de a peça entrar em produção. Uma coleção de roupas, em geral, não tem menos de oitenta peças. Um grande criador pode chegar a ter ate trezentas unidades. Essa etapa envolve todos os funcionários da confecção, dos cortadores às acabadeiras, passando pelas costureiras e passadeiras. O trabalho tem de ser absolutamente sincronizado para que a produção não atrase, nenhum funcionário fique sem ter o que fazer e não falte produto nas lojas, de forma que possibilite respostas rápidas às mudanças de tendências e às demandas do consumidor. Terminada a coleção, há ainda outro trabalho: a campanha de lançamento. Muitas vezes, é essa etapa que determina o sucesso de uma marca. Para uma boa divulgação, muitos donos de confecção estão recorrendo, cada vez mais a produtores de moda e relações públicas. Os produtores ficam responsáveis por colocar peças em jornais, revistas e catálogos e os relações públicas podem encaixar matérias e notas em mídias variadas. Um desfile bem organizado pode arrematar o processo de divulgação. O trabalho de marketing exige um investimento um pouco maior, mas em função de seu amplo alcance e apelo, pode garantir resultados importantes e bastante expressivos em termos financeiros pra uma fábrica ou griffe de moda.


Ao realizar uma pesquisa sobre inspirações de moda, o designer pode usar vários materiais como vídeos, fotografias, revistas, anotações de viagens, e ouros. Uma observação mais apurada ajuda a identificar elementos de estilo. São considerados elementos de estilo de uma estação os pontos que apareceram com maior freqüência na pesquisa de tendências, como um tipo de tecido, um comprimento de calça, um desenho de estamparia. A fotografia é muito útil neste caso, pois possibilita agrupar essas referências identificadas em painéis de tendências.


O painel de tendências é um compilado de informações, agrupadas de maneira agradável e de fácil percepção visual, para auxiliar o designer a identificar tendências para a estação. É através do painel de tendências que o designer pode visualizar quais os elementos de estilo poderá utilizar em sua coleção para que a mesma se apresente contextualizada com os demais lançamentos.

Depois de escolher o tema da coleção o designer deve revisar seus painéis de tendências e selecionar quais elementos de estilo identificados na pesquisa poderiam ser usados para compor uma coleção sobre o tema escolhido. Por exemplo: um designer escolheu “índios norte-americanos” como tema de coleção. Ao revisar as tendências pesquisadas selecionou os seguintes elementos de estilo para usar na coleção: acessórios com pedra turquesa, couro envelhecido, camurça, tiras de couro usadas como costura em “X”, franjas de couro, etc... Selecionando dessa maneira estará eliminando elementos de estilo que não condizem com o tema, tais como estampas em cashmere.


Embora esses outros elementos sejam tendência de moda também, não fazem parte do universo do tema escolhido.


É comum empresas apresentarem grandes coleções, com produtos agrupados por temas, como se fossem subcoleções. Essa estratégia é válida para empresas que procuram cobrir todas as tendências de uma estação. Na verdade a confeção estará trabalhando várias coleções simultâneas, cada uma com um tema.

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